Em 1911, um evento marcou profundamente a história do protestantismo na capital do Rio Grande do Norte e em todo o estado potiguar. Foi a organização da primeira comunidade em igreja, em Natal, vinculada ao movimento presbiteriano independente.

Sob a liderança de Eduardo Carlos Pereira, o movimento, no início do século XX, afirmava que fé cristã e maçonaria eram incompatíveis. Também buscava um protestantismo brasileiro, sem influência norte-americana.

Como tudo começou

O movimento presbiteriano independente teve seu início em 1903, ganhando repercussão em todo o território nacional. Na capital potiguar, a influência não foi diferente. Desde 1886, o protestantismo já marcava presença em Natal por meio do trabalho da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Durante o cisma presbiteriano de 1903, embora a reação ao movimento independente não tenha sido imediata, alguns crentes passaram a aceitar a ideia de que maçonaria e fé cristã eram incompatíveis.

Há registros, inclusive, de uma tentativa de adesão ao movimento independente em 1905, que acabou sendo contida.

De fato, mesmo aqueles que simpatizavam com os ideais da Igreja Presbiteriana Independente ainda não viam, naquela época, a necessidade de promover uma separação na igreja.

Por volta de 1910, membros do Conselho da Igreja Presbiteriana Central (Junqueira Aires) se envolveram em situações que causaram forte contestação na comunidade.

Nesse contexto, um grupo, insatisfeito com os acontecimentos, decidiu se unir à Igreja Presbiteriana Independente.

O pedido da organização

Em 8 de janeiro de 1911, os irmãos escreveram ao Estandarte, órgão oficial da Igreja Presbiteriana Independente, comunicando sua adesão e pedindo à Comissão de Missões Nacionais o envio de um pastor para organizar a igreja.

Em resposta, a Comissão enviou o Reverendo Manoel Francisco Nascimento Machado, que realizou a organização da Egreja Presbyteriana Independente do Natal (conforme a grafia da época), no dia 20 de abril de 1911. A primeira ata da igreja registrou:

“Aos vinte de abril de mil novecentos e onze, nesta cidade do Natal, estado do Rio Grande do Norte, à Rua Coronel Pedro Soares, às sete horas da noite, o Rev. Manoel Machado, em virtude dos poderes de evangelista, deu início, com oração, aos trabalhos de organização da Egreja Presbyteriana Independente do Natal (…)”.

Esta data é indubitavelmente um marco para o protestantismo em nosso estado. Estava organizada a nossa segunda igreja evangélica.

Desde então, a igreja se dedica a promover o Reino de Deus, enfrentando os desafios de cada época e engajando-se nas questões urgentes da história, sem se alienar de seu tempo.

Rev. Manoel Machado
Rev. Manoel Machado (o primeiro Leão do Norte)

O Primeiro Leão do Norte

Naquele dia 20 de abril de 1911 o Rev. Manoel Machado assumiu jurisdição sobre 54 (cinqüenta e quatro) membros professos (adultos) e 28 (vinte e oito) crianças. Nesse dia, os irmãos organizaram a Primeira Igreja Presbiteriana Independente do Natal. Também elegeram os primeiros presbíteros — José Saturnino da Silva, Lupicínio Ramos e João Café — e os primeiros diáconos — José Militão dos Santos, José Bezerra Cavalcante e Antônio Borges de Paiva.

Tendo recebido a informação da organização da nova igreja, o jornal O Estandarte respondeu em 27 de abril de 1911:

“um abraço a cada um desses novos companheiros; sejam eles, no Espírito de Deus, valentes lutadores pela Coroa Real do Salvador”.

Primeiro tempo em 1911 - Casa de Oração
Primeiro templo em 1911 – Casa de Oração

Em agosto de 1911, a igreja inaugurou seu primeiro templo, chamado Casa de Oração.

No dia 31 de julho de 1923, com uma oferta da Escola Dominical, teve início a campanha para a edificação de um novo templo, cuja planta e construção foram realizadas pelo Sr. Miguel Micusi, o mesmo responsável pela construção do Palácio Felipe Camarão (sede da prefeitura do Natal).

Nascido em Udine-Itália, em 1870, Micussi, o empreiteiro e construtor, trouxe para a IPI do Natal o que aprendeu na Europa.

Em 29 de março de 1926, no pastorado do Rev. Manoel Francisco do Nascimento Machado, conforme consta no Livro “História da Cidade de Natal”, do historiador Câmara Cascudo, foi inaugurado o templo atual, que é, sem dúvida, parte essencial da nossa identidade.

Foram gastos na construção, a importância de Dois Contos, quatrocentos e sessenta mil, novecentos e vinte réis.

Construção da Torre – Visão da Praça Pio X (atual Catedral Metropolitana)

Ao longo dos anos, a Primeira IPI tem se dedicado ao serviço a Deus e à sociedade. Deste esforço missionário surgiram diversos frutos, de modo que hoje se configura como mãe e avó de igrejas.

Da Primeira IPI originaram-se a Igreja Presbiteriana Independente de Parnamirim, a 2ª e 3ª IPIs, e, após uma cisão, a Igreja Presbiteriana Nova Jerusalém.

A IPI do Natal atualmente

Hoje, além de apoiar ministérios, a igreja mantém três congregações: Vera Cruz, Riachão (em Ceará-Mirim) e Vila Assis (em Touros).

Uma igreja ativa

Para manter sua estrutura centenária ativa e relevante, a igreja realiza o Culto do Refrigério — um culto evangelístico conhecido na cidade, que já impactou milhares de vidas ao longo de três décadas.

Realiza também o projeto social Café Solidário que tem abençoado a vida de centenas de famílias carentes nas adjacências da Cidade Alta.

Também abriga a Escola de Música Suzedi Lóide Lessa, onde crianças, jovens e adultos aprendem acordeon, piano, flauta e violão clássico.

Em seu espaço de convivência, a IPI do Natal realiza mensalmente o projeto Memória Ativa — uma atividade de ginástica cerebral que promove comunhão, saúde e bem-estar entre irmãos de todas as idades.

Outra marca significativa da IPI do Natal, é a sua ênfase no discipulado. De terças a sábados, dezenas de pessoas participam de encontros presenciais com uma equipe de discipuladores, visando uma formação espiritual contínua e não apenas dominical.

Pastores em atividade

Desde 2020, o Rev. André Lima (Pastor Titular) pastoreia a igreja como seu décimo quinto pastor. Ele ainda conta com o apoio do Rev. Kleber Nobre (Pastor Titular de 1993 a 2019 e atualmente Pastor Auxiliar). Atualmente, a igreja conta com 167 (cento e sessenta e sete) membros professos na sede e nas congregações.

Desafios

Atualmente, o nosso estado, como o resto de todo o país, tem assistido a uma proliferação exponencial e sem precedentes de igrejas evangélicas.

Em meio ao crescimento contínuo e à falta de clareza na identidade de muitas igrejas, que nem sempre valorizam a seriedade e deixam a doutrina frágil confundir os fiéis, a Primeira IPI do Natal se destaca. Não de forma isolada, mas como uma igreja comprometida, com raízes históricas profundas, que reflete com cuidado sobre seu papel na promoção dos valores do Reino de Deus em sua comunidade.

Igreja que, herdeira do movimento da Reforma Protestante, proclama com todo o vigor “sola gratia, sola scriptura, solus christus, sola fide e soli deo gloria”.

É presbiteriana porque é guiada por um modelo democrático, onde os líderes (presbíteros e diáconos) são escolhidos pela própria comunidade e servem por um tempo. Também porque segue os ensinamentos da tradição reformada, que reconhecem Deus como Senhor de tudo.

Afinal, por que independente?

Nossa igreja é chamada de “independente” porque seguiu um movimento do início do século XX que surgiu dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Esse movimento queria que o protestantismo no país fosse realmente brasileiro — com autonomia, liberdade de influências estrangeiras e capacidade de formar seus próprios pastores e crescer em todas as regiões.

No Rio Grande do Norte, a igreja-mãe que abraçou esse sonho fica na Rua João Pessoa, 259 – Cidade Alta, Natal/RN. Lá, as portas estão sempre abertas para acolher quem busca apoio espiritual, orientação segura e cuidado em um mundo cada vez mais indiferente.